domingo, 12 de junho de 2011

Mestre Arraia: nosso saudoso visionário

Amanhã, dia 13. 06. 2011, meu pai receberá uma homnagem póstuma na CLDF: título de cidadão honorário de Brasília, junto aos amigos e mestres Tabosa, Fritz e Cláudio - Danadinho.



Aldenor , nascido em 17 de janeiro de 1946 em Jacobina – BA
Filho de Amarílio e Arlinda
Irmão de Adilson e Maria
Pai de Áli e Marília
Avô de Leonardo e Gabriela
            Nosso pai nasceu em Jacobina, passou a maior parte de sua infância e adolescência em Salvador. Seu pai Amarílio era um homem muito interessado nos estudos, formou-se pela Faculdade de Direito da Bahia e teve uma carreira profissional promissora: advogado, juiz, professor, deputado, ministro. A mãe, Arlinda, era uma mulher elegante, reservada, protetora dos filhos e ótima cozinheira.
Do tempo em Salvador, ele gostava mesmo de contar sobre suas vivências, os colegas de escola e a participação na luta estudantil logo que ingressou na faculdade de História na Universidade Federal da Bahia. Sobre as vivências na cidade, conheceu a capoeira e dois grandes mestres Pastinha e Bimba. Aldenor participou de várias rodas, vivia na rua, jogando, conversando, falando... Seus pais não compreendiam muito bem seus interesses, suas lutas, mas, de certo modo, eles permitiam que Aldenor seguisse lutando.
Em 1960, sua família veio para Brasília, para seu pai assumir o cargo de ministro do Tribunal Federal de Recursos. Aldenor continuou suas lutas em Salvador – unindo capoeira e movimento estudantil frente à ditadura.  No front das passeatas, Arraia e seus companheiros protegiam os estudantes.
Deve ter vindo para Brasília nos meados dos anos 60.  Os pais o trouxeram por temerem sua situação em Salvador, tanto por motivos de saúde quanto pela repressão. Aqui, ingressou na Faculdade de Direito no CeuB e passou a ensinar capoeira sob os pilotis dos blocos na 206 sul, quadra em que morou e atraiu vários de seus amigos: Eldir Coelho, Otávio, João Paulo Peixoto, Carlos Henrique Lima Santos, Alfredo (Fritz), Conde (José Luís), Dedé, João Claudio Pinheiro, Chico dos Anjos, Armando Rollemberg,  Pedro Abelha, entre outros.
Na 206 ainda, conheceu sua primeira mulher, Fernanda, socióloga com quem formou uma família e dividiu muitos amigos, idéias e sonhos. Em 1977, nasce Áli. Em 1981, Marília.  Na década de 70, configura-se ainda mais o grupo da capoeira no Elefante Branco: Tabosa, Fritz, Barto e Danadinho. E, conhecendo e trocando também com Adilson, Zulu, Gilvan, Squisito, entre muitos mais.
Na década de 80, com o nascimento, crescimento dos filhos e problemas de saúde, foi se afastando do ensino da capoeira. Mas, seu pensamento sempre se manteve lá, na luta, na dança, nas raízes de sua tradição e de muitos sonhos. Seus companheiros continuaram e prosseguiram aos poucos realizando a capoeira em Brasília.
Entre 1984 e 1985, após separação, voltou a Salvador. Próximo aos anos 90 conheceu sua segunda mulher Tereza, que já tinha filhos criados, mas com quem partilhou a alegria de conviver e criar seus netos Léo e Gabi.
Aldenor-Arraia sempre que vinha a Brasília, com sua cadernetinha telefônica entrava em contato com os amigos, para matar a saudade e, com certeza, para acompanhar o andamento da capoeira e de seus mestres. Seu lado de pai protetor e orgulhoso era forte. Nos últimos anos de sua vida, era marcante a presença e carinho de dois amigos: Eldir, irmão, companheiro, e Mestre Barto – amigo, que o escutava e dividia as preocupações.
Em janeiro de 2005, faleceu na sua “terra-santa”, na Bahia, em Porto Seguro, lugar que amava e se sentia em casa. No mesmo Porto onde muitos chegaram e também partiram do nosso Brasil para outros mundos.
Viva, axé! Era assim que ele gostava de cumprimentar e a vocês deixo sua mensagem de celebração, realização, força e luta!

6 comentários:

  1. Marry, suas palavras me reteram a atenção do início ao fim e da mesma maneira me emocionaram! Tocante a maneira como você celebrou e saudou a vida de seu pai! Grande cidadão e pai! Adorei saber em mais detalhes do caminho que ele percorreu, assim pelas doces palavras de sua filha que descrevem fatos, sentimentos e saudade! Grande beijo, Cau

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  2. Boa tarde Marilia, meu nome eh Beatriz (Bia) e sou aluna do Mestre Adelmo tambem de Brasilia (aluno e discipulo do Mestre Barto). Sou Professora da Capoeira no Reino Unido, numa cidade chamada Bournemouth.

    Na nossa arvore genealogica da Capoeira, somos da linhagem do Mestre Arraia e estava aqui pesquisando na internet pra ver se eu conseguia encontrar informacoes sobre o mestre Arraia e Gracas a Deus, me deparei com o seu post e meu coracao sorriu de alegria!

    Eu gostaria muito de entrar em contato com voce, porfavor me passe um email se for possivel pois gostaria muito de ter sua permissao para que eu possa traduzir para o Ingles as informacoes do seu blog sobre o Mestre Arraia.

    Meu email eh bia_origens@hotmail.com Se voce tiver facebook me encontrara como Professora Bia Bradbury.

    Muito Obrigada e parabens pelo seu post, obrigada por compartilhar conosco um pouco dessa historia linda, a trajetoria de um homem maravilhoso que foi seu pai, que fez e ainda faz diferenca na nossa historia!!!!

    Abracos com muito carinho

    Bia - UK

    bia_origens@hotmail.com

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  3. Boa noite Marília!
    Iniciei um blog para tratar da história da capoeira em Brasília. E essa história começa com seu pai que foi quem trouxe a capoeira para BSB. Caso você possa contribuir com informações, fotos etc. seria de grande valor.
    O nome do blog é "tem capoeira no pilotis"
    O end. é
    temrodanopilotis.blogspot.com.br

    Grande abraço!

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  4. ola Marilia, que linda história essa do seu pai. fui aluno do Mestre Barto que sempre nos falou de seu mestre - o Mestre Arraia.
    Tenho muita curiosidade de conhecer mais sobre o mestre de meu mestre.
    Parabéns pelo pai que teve.
    abraços

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  5. Oi parabéns pelo blogger com e pela história do fundador da Capoeira em Brasília. Sou descendente dele pois fui formado de Mestre Barto em 2002 em São Paulo. Iniciei com ele em Brasília nos anos 70.

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